No mito grego, Cronos, em busca do poder eterno, fere seu próprio pai e toma dele o trono. Depois, para que a profecia de seu pai não se cumprisse, devora seus filhos.
Olhando para isso, eu me pego pensando: quem de fato pode dominar Cronos – que nos devora sem qualquer piedade -- em especial, nos dias de hoje? Essa seria uma pergunta enlouquecedora para minha Mente-Prosdócimo, efervescente e explosiva como uma bala de menta numa garrafa de Coca-Cola – e não deixa de ser totalmente, graças a Javé, considerada a condição criativa de loucos como Monet, Cazuza e outros a partir de suas loucuras – se não fosso um enunciado de certa musa de carne e osso, dessas que beliscam a gente e dizem: “viva Caieiro!!!” Outrora me dissera, olhando-me com suas ximbras resplandecentes: “deixa a vida te levar!”
Ora, sabias palavras de alguém de paixões pela vida... e que me sugere a me enamorar por esta mesma coisa canta por seres de outro planeta cultural, no tempo em que uma virgula era deveras um objeto de reflexão antes de ser posto em um enunciado de um texto cujo impacto era inevitavelmente fantástico, considerando as mãos e o ethos de quem o faz. Vida e tempo de fundem numa esfera aquém de preceitos exacerbadamente filosófica; forjam-se como ouro e prata nobres no dedo da mais comum das pessoas, quando esta olha-se no espelho e se toca do que existe nela desde que suas gametas resolveram se entregar às magias de Eros. Vida seria o fermento; tempo? Simplesmente ele mesmo.
Oh palavrinhas complicadas de se entender, mas tão simples em termos semânticos – se bem que não estou a fim de bancar o lexicógrafo exagerado (são só pitadas). VIDA... TEMPO... gritam no meu ouvido-parabólico. A minha tese diante da moldura em que a musa-vida e o deus-cronos são os amantes a se olharem no retrato é a de que, ao invés de contemplar apenas tal tela fictícia, a gente tem mesmo é de pegar o pincel e ter parte nessa pintura, sem pressa do fim, porém.
Acabaram-se minhas pressas... meu desejo é seguir a sugestão da musa-mulher: é mesmo de me atirar nesse redemoinho que é o tempo sem me preocupar se vou virar moléculas divorciadas. Não estou mais nem aí com as grandes tolices, sendo que há mais sabores nas pequenas virtudes. Vencer Cronos não se consegue pelo enfrentamento, mas por não esperá-lo devorar – isso certamente ocorrerá – e sim gozando do sopro divino/humano: da vida.