domingo, 24 de outubro de 2010

Diário eletcrônio (João Paulo Feliciano Magalhães)


“Todos os dias, pego o Metrô Vermelho, sentido Corínthians Itaquera, aqui na Estação Marechal e costumo descer lá no Carrão. Meu escritório fica ali perto. Vou pra lá como quem vai para um Monte Castelo, mas sem conexões russianas com o Soneto Camoniano.
Entre as melodias afinadas (e desafinadas mais ainda de não-benditos funks) que driblo naqueles vagões, uma certa moça me chamou a atenção. Alta, nem muito delgada, nem rechonchuda... lábios finos e resplandecentes... cabelos longos e castanhos, assim como seus olhos, que, por sinal, pareciam me escanear do hardware corporal ao software mental – meu inconsciente... certo ar de mistério. Sempre sozinha, a não ser por um fone branco bastante discreto.
Inconsciente mesmo, e inevitável, foi fitar aquele olhar (ressaca ali só a de Dionísio). Eu descia no Carrão, ela no Tatuapé. Aquele olhar esfíngico tilintava como as pausas, na Petit Sweet, brilhava como as primeiras verdades de Vivald... sei lá, tudo era música naquele ser para mim. Aquele olhar...
Aí começamos um diálogo olhesco diariamente. Parecia um confronto de discursos prosaicos, todavia, com uma lira soando na conversa. Nunca vi ninguém assim... Na verdade, nunca vi cosmus assim (peço licença a você, meu interlocutor, por tanta passionalidade).
Lá no trabalho, entre relatórios de despesas e receitas, passei a escrever uns versinhos um tanto trovadorescos (bastante infantis, ha ha). Ah, talvez eu criasse coragem de entregar aquilo, talvez eu rasgasse tudo ou aquilo fosse parar numa carroça de reciclagem, assim como as trovas entraram, sem muita sorte, na tal MPB. Que diabos! Eu e esse meu vício musical!
Pois é, um dia eu embrulhei tudo para presente e levei comigo rumo ao Metrô. Resolvi me mostrar presente. Ah, por uns três dias eu ensaiei me aproximar. Suava borealmente... Tremia sibericamente... De repente, achei coragem nos livros de autoajuda que folheava (de minha chefe, é claro) e fui ao encontro dela. Cada passo meu era digerido por ela com serenidade londrina... Vagou um lugarzinho perto dela no exato momento e... eu, cheio de pastas e paixões, sentei ali pertinho dela. Quando virei minha face para falar, sei lá o quê, eis que sou interrompido por aqueles lábios:
-- Mistérios são mistérios, mas não são inatingíveis!
Camarada!... eu não vacilei mais e...” creactapuzin...
-- Poxa mano?! Isso é hora de acabar a bateria do Ipod?
Finalizado em 24 de outubro de 2010

8 comentários:

Modus Vivendis disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Modus Vivendis disse...

Brave!

We have definitely started a method:
Being outdoors, being alone in a crowd, being tantalized by the beautiful people in a crowd.

Tomorrow I'll point out the language inaccuracy, for this method allows not even a missing dot in a reticence... Technology wants this to be so.

See you!

Modus Vivendis disse...

Good morning John.

Don't you mean russeaunianas and Vivaldi instead of "russianas" and "Vivald"?

See you later.

Modus Vivendis disse...

Hi John.

I read this text and remember once you told me you would read more poetry to achieve a fine prose and you did it.

Your text is pretty fluent and exciting. I'm sure we (your readers)feel its pleasure. Congratulations!

Modus Vivendis disse...

Good morning John.

Dionysus wouldn't have had a hangover. He didn't drink wine as the Roman Bacus. After all, drinking is so Christian...

Modus Vivendis disse...

Sim, John.

I see you have loyally embraced a system: It seems like an expansion of futurism: open spaces, outdoor images, technology etc.
Your text is such a blasting revolution in Brazilian Literature. Go on!

Modus Vivendis disse...

Hello, John.

Do you really believe your reader is your representative (interlocutor)?

Modus Vivendis disse...

Hello, my friend.

Only a few brave men have time for fun...

Your post is too serious.

See you.