Hoje estava
assistindo um vídeo de uma entrevista de Mario Sérgio Cortella sobre os efeitos
da televisão. Não exatamente o tema televisão
me furtou o olhar, mas uma das falas do filósofo: toda obsessão é doentia. Trata-se de uma afirmação interessante
para mim, mas que merece ser analisada, explorada, dilacerada e ruminada aos
pouquinhos, em vários contextos. Minhas pretensões não circundam a ideia de me
comparar ao filósofo, mas pura e simplesmente experimentar sua ideia ao meu
modo. Vamos pensar nisso, caro leitor, em três situações: trabalho, arte e família.
Vivemos numa sociedade frenética, um verdadeiro garimpo de oportunidades – para
o bem ou para o mal – nos mais variados setores. Um individuo nesse contexto
tem de estar preparado tal qual o jacarezinho já esta quando sai de seu ovo e
caça no seu primeiro dia de vida pós casca. O sujeito tem de se virar, de fazer
isso ou aquilo para garantir sua sobrevivência numa esfera de consumo. E o
trabalho nessa história? Algumas pessoas entendem que devemos buscar pontos de
equilíbrio no que se refere ao envolvimento no trabalho, mas vejo diversos
exemplos de pessoas brilhantes que são verdadeiramente obsecadas por seu
trabalho, bem como fabulosamente bem-sucedidas. Citar nomes seria um clichê –
um subversivo argumento de exemplo – e não é minha intenção. Coloco aqui mesmo
é a tal obsessão. Mas muitas vezes essas pessoas abrem mão de coisas
elementares; prazeres de convivência e de diversão; suas mais particulares
vidas. Seriam esses indivíduos mergulhadores suicidas? O outro ponto de minha
trilogia é a arte. Jimi Hendrix, segundo Eric Clapton, tomava café com a
guitarra em seu colo, como uma criança a ser acarinhada. Villa-Lobos, segundo
Jobin, compunha debruçado no chão da sala em meio a seus netos correndo e
barulhando – obra fantástica! Picasso, Pessoa, Ramos, Rosa, Assis... tantos
nomes dos mais obsecados pela perfeição em seus fazeres; em sua arte. Seriam eles
doentes? E a família? Bom, eu como professor, vejo centenas de crianças das
mais variadas estruturas – e antiestruturas – familiares. Pequenas pessoas
cujos pais muitas vezes optam por meios dolorosos de educação ou punição. Há os
que nem se importam com suas proles, porém os que de fato ligam para os seus,
por vezes, demonstram uma vibração de vida capaz de contagiar estádios inteiros.
Seriam esses pais seres apaixonados e inconsequentes? Seriam eles antiexemplos? Como é de minha
postura, sempre me projeto nas situações sobre as quais reflito. Hoje,
diferentemente de antes, não tenho reservas nisso. Bem, diria que, dentro
dessas três partes presentes na vida de um sujeito, eu alterno um comportamento
obsessivo sim. Ora um, pra outro, eu vou me atirando rumo ao muro – e ao outro
lado do muro. Nesse instante, almejo a família, sob todas as coisas. Sou antiquado
nesse ponto; acredito que família demanda essências elementares. O amor: a
maior delas. Creio que é preciso perceber que não estamos sozinhos, que não
viemos ao mundo para meras paginas em branco no final. E a família é algo que
desejo loucamente. Sonho com coisas comuns: passeios no parque e piquenique com
esposa e filhos, os primeiros dentes do caçula, abraços de boa noite e de boa
vida, crianças nos ombros, beijo na esposa de 25 anos... momentos a serem
vividos... Sou um cara de teatros, de centopeias de falas, o terror dos
parágrafos de Otton M. Garcia. Sou intenso e calado. Bicudo e sorridente. Olhar
confuso e cinza. Perco-me em objetivos por um objetivo maior. Seria eu um suicida, um doido, um obsecado?...
O que você me
diria?
30-11-2013
30-11-2013