sábado, 30 de novembro de 2013

OBSESSÃO João Paulo F. Magalhães

Hoje estava assistindo um vídeo de uma entrevista de Mario Sérgio Cortella sobre os efeitos da televisão. Não exatamente o tema televisão me furtou o olhar, mas uma das falas do filósofo: toda obsessão é doentia. Trata-se de uma afirmação interessante para mim, mas que merece ser analisada, explorada, dilacerada e ruminada aos pouquinhos, em vários contextos. Minhas pretensões não circundam a ideia de me comparar ao filósofo, mas pura e simplesmente experimentar sua ideia ao meu modo. Vamos pensar nisso, caro leitor, em três situações: trabalho, arte e família. Vivemos numa sociedade frenética, um verdadeiro garimpo de oportunidades – para o bem ou para o mal – nos mais variados setores. Um individuo nesse contexto tem de estar preparado tal qual o jacarezinho já esta quando sai de seu ovo e caça no seu primeiro dia de vida pós casca. O sujeito tem de se virar, de fazer isso ou aquilo para garantir sua sobrevivência numa esfera de consumo. E o trabalho nessa história? Algumas pessoas entendem que devemos buscar pontos de equilíbrio no que se refere ao envolvimento no trabalho, mas vejo diversos exemplos de pessoas brilhantes que são verdadeiramente obsecadas por seu trabalho, bem como fabulosamente bem-sucedidas. Citar nomes seria um clichê – um subversivo argumento de exemplo – e não é minha intenção. Coloco aqui mesmo é a tal obsessão. Mas muitas vezes essas pessoas abrem mão de coisas elementares; prazeres de convivência e de diversão; suas mais particulares vidas. Seriam esses indivíduos mergulhadores suicidas? O outro ponto de minha trilogia é a arte. Jimi Hendrix, segundo Eric Clapton, tomava café com a guitarra em seu colo, como uma criança a ser acarinhada. Villa-Lobos, segundo Jobin, compunha debruçado no chão da sala em meio a seus netos correndo e barulhando – obra fantástica! Picasso, Pessoa, Ramos, Rosa, Assis... tantos nomes dos mais obsecados pela perfeição em seus fazeres; em sua arte. Seriam eles doentes? E a família? Bom, eu como professor, vejo centenas de crianças das mais variadas estruturas – e antiestruturas – familiares. Pequenas pessoas cujos pais muitas vezes optam por meios dolorosos de educação ou punição. Há os que nem se importam com suas proles, porém os que de fato ligam para os seus, por vezes, demonstram uma vibração de vida capaz de contagiar estádios inteiros. Seriam esses pais seres apaixonados e inconsequentes?  Seriam eles antiexemplos? Como é de minha postura, sempre me projeto nas situações sobre as quais reflito. Hoje, diferentemente de antes, não tenho reservas nisso. Bem, diria que, dentro dessas três partes presentes na vida de um sujeito, eu alterno um comportamento obsessivo sim. Ora um, pra outro, eu vou me atirando rumo ao muro – e ao outro lado do muro. Nesse instante, almejo a família, sob todas as coisas. Sou antiquado nesse ponto; acredito que família demanda essências elementares. O amor: a maior delas. Creio que é preciso perceber que não estamos sozinhos, que não viemos ao mundo para meras paginas em branco no final. E a família é algo que desejo loucamente. Sonho com coisas comuns: passeios no parque e piquenique com esposa e filhos, os primeiros dentes do caçula, abraços de boa noite e de boa vida, crianças nos ombros, beijo na esposa de 25 anos... momentos a serem vividos... Sou um cara de teatros, de centopeias de falas, o terror dos parágrafos de Otton M. Garcia. Sou intenso e calado. Bicudo e sorridente. Olhar confuso e cinza. Perco-me em objetivos por um objetivo maior.  Seria eu um suicida, um doido, um obsecado?...
O que você me diria?

30-11-2013
30-11-2013

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