É de absoluta felicidade a oportunidade de se ver o mar. Não enuncio isso apenas com um ar impregnado de romantismo – já que se sabe que os românticos tinham (e tem) fixação por ele – mas, talvez seja pela busca por uma experiência muito mais pragmática do que patética.
Pois bem, certa amiga minha, cujas paixões pela dança e pelo canto lírico são emanados pelo seu suor de alfazema, resolveu-me “raptar” após um evento muito importante em minha vida. De certo, precisaria de um “bando”, cuja função seria a de me distrair enquanto seu plano – infalível, por sinal – era executado.
Sai de meu trabalho. Era sábado à tarde. Fazia um sol daqueles de fritar até mesmo as mais ebanadas peles, quanto mais a minha simples couraça-boreal. Num dado instante meu celular toca: “Alô!... Corra pra qualquer metrô que nós vamos e pegar... e nem tente fugir”. Seguindo um impulso típico de blues-boys, não exitei em me dirigir ao seu encontro.
E rapitado que fui, conduziram-me através de lugares de ares úmidos de preções auriculares... por entre gargantas verdes e escuras... por assoalhos brilhantes de H²O... vias cilíndricas de luzes encandecentes... vévuas e brilhos azuis... até que – enfim, mas não o somente fim – chegamos no tão desejado traço oceânico.
Aí, iniciou-se uma baita “batalha salgada”: “lá vai água!...”, “segura ele!!!”, “joga areia...”, toma isso...” Parecíamos tomados por um erê que se libertara de certas amarras sintéticas, cibernéticas e sóbrias para mostrar sua face de, digamos, moleque.
Já diante do grande blue universe, num certo instante, minha amiga de passos e vozes líricas entrelaçou seu braço no meu e enunciou o que tem sido um dos pilares fa maior parte de minhas teses através da vida:
-- Cê tá feliz?
Nesse instante, milhões de soldados mentais e sentimentais travavam uma luta à lá Farropilha. Contudo, antropofagicamente, parecia que num entrava no outro e mudava de lado como se muda de marcha numa Ferrari.
Sabe de uma coisa... o que disse ali não importa muito. Porém, o que mais valia era a resposta a tal interpelação que estava ali naquela cena. Meus olhos congelaram fixos ao mar, meus pés eram lambidos pela língua salgada divina e uma brisa teo-palatal feria-me bem como minha amiga. Eu não precisava diser “Sim! Estou muito!”; bastava, freiranicamente, ler-me, ler o que se passava.
Tal qual já proferi em outro momento, a felicidade não é um córrego ralo, minguado, que não irriga muito, mas sim um imenso mar, sem fim, sedutora e convidativa a se deixar cronicamente devorar-se. A minha felicidade ali era a de, ao mesmo tempo ser molécula: pequenina diante do infinito; e colosso: desbravador numa nau psico-marinha.
Depois daquele dia, nada mais foi igual ou normal – considerando que esse “normal” é demais subjetivo. As mordidas do dia-a-dia foram com mais fome. E as risadas mais autênticas do que nunca. E, se há um mistério nisso tudo, talvez seja o jocoso e bem aventurado estado de ser coscientemente pequeno, mas de grande significdo. Estou à disposição do próximo rapto.
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