quinta-feira, 16 de outubro de 2008

PABLO NERUDA


A LETRA

Assim foi. E assim será. Nas serras
calcárias, e a beira
da fumaça, nas oficinas,
há uma mensagem escrita nas paredes
e o povo, só o povo, pode vê-la.
Suas letras transparentes se formaram
com suor e silêncio. Estão escritas.
Amassaste-as, povo, em teu caminho
e então sobre a noite como o fogo
abrasador e oculto da aurora.
Entra, povo, nas margens do dia.
Anda como um exército, reunido,
e bate a terra com teus passos
e com a mesma identidade sonora.

Seja uniforme o teu caminho como
é uniforme o suor da batalha,
uniforme o sangue poeirento
do povo fuzilado nos caminhos.
Sobre esta caridade irá nascendo
a granja, a cidade, a mineração,
e sobre esta unidade como a terra
firme e germinadora se há disposto
a criadora permanência, germe
da nova cidade para as vidas.
Luz dos Grêmios mal tratados,
pátria amassada por mãos metalúrgicas,
ordem que saiu dos pescadores
como um ramo do mar, muros armados
pela alvenaria transbordante,
escolas cereais, armaduras
de fábricas amadas pelo homem
Paz desterrada que regressa, pão
compartilhado, aurora, sortilégio
do amor terrenal, edificado
sobre os quatro ventos do planeta.

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